Manhã fria, o termômetro marcava oito graus. No parque cercado de pinheiros, araucárias e palmeiras, um que de silêncio de respeito,
compondo a paisagem onde corpos descansavam em suas campas das mais variadas arquiteturas.
O relógio esculpido em mármore resplandecia os raios solares denunciando em sua sombra que movia as horas e o silêncio.
Adentrando o portão principal um carro preto transportando em seu interior
mais um que havia deixado este mundo. Um aglomerado de pessoas denunciava um importante morador daquela fúnebre localidade. Ao adentrarem a sala onde seu corpo seria velado, lagrimas e sussurros intermitentes, flores e coroas, faixas alusivas denunciavam a lacuna deixada. Na sala ao lado outro sem nenhum paramento, nem rezas, nem choro, aguardava o implacável momento de receber o número e local da sua última morada.
O primeiro em meio ao deslumbramento dos discursos, palmas e cantos
convidados ecoavam elogios e saudações variadas.
Aguardando lá na calçada homens faziam deslizar um carro elétrico em profundo silêncio.
O ar saturado do aroma característico daquele recinto fazia-se merecedor de profundo respeito.
Naquele parque com gramado bem cuidado, surtia um denunciar de que de nada adianta você viver de sentimentos pegajosos, arrogantes, pobre de valores se todos vão para o mesmo lugar onde os vermes serão os moradores das suas vísceras, órgãos e sistemas.
O pequeno veículo ornado com faixas e flores, e o ataúde de madeira de lei, esculpido com maestria recebia o corpo de alguém que iria ser transportado para seu último refúgio.
Na sala contígua uma urna funerária, feita com ripas de pinos e tecidos de refugo, outro ser… Sua posição social… Que sentido faria? Apenas ali, deitado inerte, era mais um que exalava odor e coloração de cera sem brilho, mas que compartilhava do mesmo destino, o pó da terra donde viera.
Completando o quadro real diante das sepulturas, quatro operários movimentavam seus instrumentos cobrindo ambos de terra. Lá no alto de uma solitária palmeira, dois tucanos saboreavam os frutos maduros e orvalhados quebrando o silêncio com os alaridos primaveris anunciando uma nova etapa de vida. Entoavam cantos, saudando espontaneamente os novos convidados da morada final.
Enquanto isso os acompanhantes cabisbaixos e tristes, deixavam silenciosos e pensativos aquele recinto argumentando: a partir de hoje vou mudar de vida, nada de orgulho, nada de arrogância, nada de perversidade…
Quando a noite cobriu a todos com o seu manto negro, ainda carregado de tristeza, o despontar do novo dia marcava nova era, tudo voltou ao normal.
A luz da manhã e o frio intenso fizeram com que todos seguissem para os seus afazeres por que a vida haveria de continuar e que as promessas do dia anterior ficaram apenas no esquecimento.
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