A família é muito pobre, sua casa muito humilde e suas condições financeiras são muito desfavoráveis. Talvez não passam fome propriamente dito, mas estão muito próximos desta situação. O casal vive quase na miséria, sem nenhuma perspectiva de vida.
Alberto é um pai de família sem nenhuma instrução escolar, que só pensava na bebida e mora nesta casa simples de taboa. Vive catando papel velho pelas ruas da cidade grande sem nenhuma esperança de um dia poder ter uma vida melhor.
Alice, uma mulher que criada sozinha pela vida, pois sem saber quem foi seu pai e sua mãe, sabe-se que ela é uma mundana que a abandonou quando não tinha nem dois anos de idade. Agora eles estão juntos, mas o encontro dos dois foi muito interessante. Vamos voltar no tempo.
Um dia, lá atrás, quando à tarde já estava chegando, se encontram perambulando pelas ruas da cidade grande e começam a conversar.
– O que você está catando? Pergunta Alberto.
– Até agora só encontrei alguns papelões molhados. Responde Alice.
– Você tem pinga aí? Pergunta Alice.
– Não. Responde Alberto.
– Onde você mora? Pergunta Alberto.
– Não tenho lugar para dormir! Responde Alice. Hoje em virtude da chuva eu saí da zona oeste e cheguei na zona sul de São Paulo, e não consigo voltar para lá, pois já está ficando escuro.
– Você quer dormir lá onde eu fico? Pergunta Alberto.
– Onde é? Questiona Alice.
– Embaixo do pontilhão, diz Alberto.
– Acho que vou. Responde Alice. Mas eu estou com muita fome, pois só comi um pãozinho duro e seco de manhã cedo. Eu também não tenho nada para comer, mas quem sabe aqueles caras que dão a sopa, podem vir e então a gente come à vontade.
– Quem são esses caras? Pergunta Alice.
– São uns caras que falam em Deus e enquanto estamos comendo eles vão falando sobre coisas do mundo dos espíritos.
– Eles são macumbeiros? Pergunta Alice.
– Não. Responde Alberto. Pois eles nem fumam e não querem até que a gente beba pinga também.
A conversa vai continuando, e sem que percebam chegam ao local em que Alberto iria dormir naquela noite.
Debaixo do viaduto não tem nada, é apenas um buraco sob a laje que possibilita ali não receber chuva, mas é muito frio, bastante desconfortante e ainda mau cheiroso.
Eles encostam seus carrinhos de catar papelão e ficam calados, pois estavam ali sem saber o que fazer ou dizer um ao outro.
Alberto vai se retirando e diz para Alice que vai ver se descola um cigarro com algum transeunte.
Alice, sentada no chão com aquela roupa toda suja, sente vontade de urinar e num movimento de agachar o faz ali bem próximo mesmo. Alberto retorna tragando um cigarro e oferece a Alice que o pega imediatamente e começa a fumar. Embora seus brônquios estejam com muitos espasmos, em virtude de infecção nos seus pulmões.
Como ninguém aparece, eles jogam uns papeis mais secos e deitam sobre eles. Por uns instantes, enquanto eles estão acordados começam a falar das suas vidas e do seu passado. Mas, diante da fraqueza de seus corpos eles dormem sem perceber.
O tempo passa e, derrepente, são acordados por aquelas vozes chamando-os de irmãos. Quando abrem os olhos, vêem aquelas criaturas perto deles, chamando-os de irmãos e convidando-os para sentarem a fim de comerem alguma coisa. Junto com aqueles encarnados estão presentes um número maior de desencarnados, que na caravana da fome estão levando sopa, pão e caridade para todos que não tem o que comer.
A sopa está muito gostosa e isto faz esquentar o corpo, gerando um metabolismo que os deixa muito atentos em tudo que é dito. Após aquilo, que para eles é um banquete divino, um homem de estatura baixa e voz pausada, começa a falar.
– Queridos irmãos (termo que os deixam perplexos), vamos agradecer a Jesus por estes momentos em que possamos saciar a fome, enquanto muitos não têm o que comer ainda.
Jesus continua o homem, que possa abençoar estes irmãos. E que eles possam se dispor de todo ódio, raiva ou revolta pela situação em que se encontram. Que vossos mensageiros possam iluminar estes corações endurecidos. Uma bela explanação do Evangelho Segundo o Espiritismo é feita e, então vemos um momento impar em que os fluidos e vibrações dos espíritos que os acompanham, providenciam um passe fluídico nos dois e nos outros desabrigados que lá estavam também.
Os fluídos que são passados para estes, os envolvem de tal maneira que ficam como se estivessem paralisados. Os irmãos encarnados conversam com os dois indagando de onde vieram e o que fazem ali. Um pequeno diálogo os envolvem e eles não conseguem acreditar que aquelas pessoas possam dar atenção a eles.
Os encarnados vendo como eles estão com frio, vão até um automóvel que os conduzem na Terra e traz de lá cobertores para que eles possam se agasalhar. Após mais algumas palavras, eles vão embora os deixando de barriga cheia e sem frio e Alberto e Alice em breve voltam a dormir novamente.
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