Adentrei a floresta, ouvia o som do machado e da serra elétrica, pássaros não trinavam, apenas voavam em bandos, com alaridos de dor. Os ninhos nas copas centenárias balançavam quais tempestades arremessados sob a fúria do homem. Galhos, folhas, e filhotes indefesos ao chão, choravam…Bicos abertos até os limites, e o homem brandindo o machado, decepando galhos, e a serra cantando ruídos macabros. O riacho cristalino mantinha-se inerte sufocado por folhas que lhe cobria a superfície. Peixes alocando-se em labirintos escuros sentiam as ondas magnéticas sobre os cristais de rocha. Enquanto isso serrarias aparavam toras dando-lhes formas e deleite de conquistas. Lá no alto, trinando nas copas que restaram, as mamães pássaros, azulão, bem-te-vi, sabiá, pintassilgo e outros, deixavam no ar um canto de dor. Alguns ovos foram destruídos, o eu imaginário, sustentava sobre a palma da mão, um mavioso ninho com dois filhotes, que por encanto não foram destruídos. Com o meu olhar tristonho e lágrimas de dor eu perguntei: se o onze de setembro não foi suficiente para despertar os sentimentos? Como fazer para que o homem desperte, e compreenda a vida em outra dimensão…Talvez aturdidos pela dor tenhamos que, reavaliar nossas ações no cumprimento dos desígnios do Criador Supremo, nem a dor da devastação, nem lagrimas resinadas da floresta são capazes de renovar o homem. Que lástima! Que Inferno! O Riacho com sua rota natural sente-se ameaçado em seu curso, torna-se mudo e sem vida, restando o lixo do desmatamento a sufocar-lhe as entranhas pela falta do oxigênio. A fauna e a flora não têm esperança, suas almas vagueiam em sentida peregrinação, uma navalhante dor, pelo desfecho catastrófico do açoite do machado e da serra tão violentos, quanto o desmaio de uma quaresmeira centenária sobre o solo úmido e – triste. Ovos quebrados e alguns intactos, prenunciavam o silêncio da campa, o olhar tristonho de algumas espécies e o pesaroso caos da destruição umedecido com lágrimas a rolarem em busca do riacho quase morto e da floresta em estado letárgico.
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