Imaginamos que as coisas ruins só acontecem com os outros, pois acreditamos estarem distantes de nós. Até um dia que nos surpreendemos com algo em nossas vidas, que jamais poderíamos imaginar passar por isto.
Tudo começou bem em 2009 com uma viagem a Argentina foi uma semana muito gostosa, após a viagem tivemos uma grande surpresa estava grávida, quanta alegria. Que ano maravilhoso seria esse, até então entrar o inverno e ver no noticiário sobre uma nova gripe que estava tomando conta de todo o país. Não havia vacina ainda para precaução e estava cada vez mais se alastrando, só se falava isto nos noticiários, e o que é pior as grávidas deveriam ter muito cuidado, pois uma vez com esta gripe o risco de mortalidade era muito grande.
Eu estava nesta condição, mas como eu mesma disse acima, coisa ruim só acontece com os outros, está longe de nós. Até então, ser surpreendida por uma amiga que estava com esta gripe, e o que é pior nem imaginava que a pouco a perderíamos. Nem pude acreditar, fiquei muito mal, acredito ter entrado até em depressão, como isto poderia ter acontecido com alguém tão próximo, com uma amiga tão querida, tão cheia de vida. Por que Deus foi tão injusto em levá-la de nós? Pedíamos tanto para que a salvasse, então por que ela morreu? Fiquei muito aborrecida e com muito medo, tinha receio em sair de casa, tentava nem encostar nas pessoas com medo do contagio, agora temia que esta doença também pudesse tomar conta de mim. O que adiantava pedir pra Deus se ele faz o que ele bem entende. Talvez tenha ficado de mal Dele, não me conformava pela perda.
Porém, toda esta angústia passou com a entrada da primavera e com o nascimento do meu filho querido. Agradeci a Deus por esta graça. Mas, tinha por mim que pedir alguma coisa pra ele jamais, porque ele faz o que ele bem entende.
O Natal e o Ano Novo foi muito gostoso, afinal era o primeiro comemorado com o meu filho nos braços. Todos da minha família ficavam encantados com ele, mas tinha um integrante da família, que tenho certeza que mais curtia ele, ficava todo “bobo” quando ele chegava a sua casa, esta pessoa era meu pai “vovô coruja”. Não imaginava que meu pai fosse curtir tanto seu neto, porque ele nunca fora tão apegado a nós, talvez por timidez ou sei lá pelo seu jeito de ser mesmo. Mas, nós podíamos contar com meu pai pra tudo, é a bondade em pessoa. Acreditava que Deus jamais deixaria que coisas ruins acontecessem com pessoas assim como meu pai.
Mas, a vida, o destino nos pregaria uma peça em breve. Em março 2010, meu pai começou a sentir-se mal, talvez com algo que tenha comido e não caíra bem. Mas, havia se passado alguns dias e aquele mal estar continuava, e meu pai não fazia mais aquela festa quando seu neto chegava, não tinha ânimo. Até, que começamos a notar que mudara de cor, sua pele e seus olhos amarelados. Naquela mesma hora dissemos para ele que era sintoma de hepatite, que tinha que ir ao médico o quanto antes. E assim fez, neste mesmo dia. Após exames o médico constatara que realmente se tratava de hepatite, não havia remédio para esta doença, que a única coisa a fazer era repousar e evitar algumas coisas em relação à alimentação. E assim fez, pesquisávamos um monte de coisas sobre esta doença na internet, e realmente os sintomas que meu pai tinha batia direitinho, então só era mesmo uma questão de paciência que logo passaria.
Porém, meu pai começou a ficar muito desanimado e aborrecido, pois além do mal estar, também sentia muita coceira no corpo todo, por causa da icterícia, e o que é pior não havia nada que aliviasse. Mas, falávamos pra ele que tinha que ter só mais um pouco de paciência, que questão de dias ou no máximo um mês, não sentiria mais nada.
Porém, os dias foram se passando e nada de melhorar, já estava até perdendo peso. Em maio no dia das mães fizemos um churrasco, mas meu pai estava muito pra baixo, meio calado, não era o pai que eu costumava ver sempre falante, contando uma piadinha e coisa e tal. Era meu primeiro dia das mães com meu filho, tinha todo o motivo do mundo para estar feliz. Mas, o fato de ver meu pai naquela situação me intrigava. Todos que ali estavam perceberam o seu desanimo, sem contar que estava bem abatido. Foi então, que resolvemos retorná-lo ao médico no dia seguinte. Já em consulta o médico continuava a afirmar que o seu problema era a tal da hepatite, e que em breve ficaria bem. Até então, minha mãe que o acompanhara disse indignada ao médico, como em breve doutor? Se já fazem dois meses que ele está assim. O médico admirado e surpreso resolveu então, encaminhá-lo ao especialista, que poderia dar um diagnóstico mais correto.
Neste mesmo dia passou em consulta com este especialista, acredito que cuidava de doença relacionada ao fígado. O médico disse que precisava pedir uma bateria de exames para constatar o verdadeiro problema, já em consulta descartou a hipótese de hepatite, mas de uma coisa ele teve certeza, era preciso pedir a internação do meu pai o quanto antes, e assim foi feito.
Já internado foi realizado vários exames, porém os resultados de todos eles não conseguiam concluir nada em relação ao diagnóstico. A única coisa que os médicos conseguiram fazer foi amenizar os sintomas, principalmente a coceira. Mas, algo de anormal tinha, não era a toa que ele estava com a coloração da sua pele amarelada no corpo todo.
Achávamos que poderia ser pedra na vesícula, até meu pai já estava conformado com a hipótese de ter que tirá-la. Foi quando ele realizou uma tomografia e nela o médico nos disse que não pôde concluir nada, que inclusive não constatara nada de anormal na vesícula. Fiquei intrigada com aquilo que o médico tinha dito, resolvi então já fora do quarto onde meu pai se encontrava, perguntar para o médico o que ele queria dizer com aquilo e o que ele desconfiava que fosse. O médico com um olhar bem preocupado me disse que estavam desconfiando de um tumor. Naquele momento fiquei desnorteada, não queria acreditar no que ele acabara de me dizer. Como contaria isto para meu pai, não podia, ninguém precisava saber por enquanto, foi difícil disfarçar minha preocupação e a minha angústia na frente do meu pai e também da minha mãe. Queria acreditar que não fosse verdade, que o médico poderia estar enganado.
Enfim, meu pai foi encaminhado para outro hospital a qual foi realizado um exame mais detalhado e também um procedimento que introduzia um tipo de cateter em seu fígado, isto foi feito porque infelizmente o que o médico desconfiava tinha tido a prova, realmente tratava de um tumor, que estava localizado bem no ducto hepático impedindo a saída da bile. Com este cateter facilitaria a passagem da bile impedindo que o tumor interrompesse o canal. Quando ouvimos da boca do médico a gravidade deste tumor entramos em total desespero, minha irmã naquele momento não conseguiu nem olhar para meu pai, afinal ele não sabia de nada ainda, achamos por melhor poupá-lo. Foi, então que eu tive que dar uma explicação para ele, tentando disfarçar a minha tristeza e minha total angústia, disse a ele se tratar de um nódulo no fígado que deveria ser retirado. Ele pareceu acreditar, ou talvez não quisesse saber da verdade por medo.
Os dias foram se passando e meu pai permanecia internado, sem entender direito o que estava fazendo ali, se nada estava sendo feito nem comentavam de cirurgia, só ficava no soro, dizia que não agüentava mais aquela situação. Tentávamos disfarçar ao máximo, dávamos uma desculpa, mas o fato dele estar internado era apenas para controle da bilirrubina, depois ele seria encaminhado ao oncologista. Mas, toda vez que estávamos lá saímos desnorteados, porque não conseguíamos ouvir dos médicos nada de bom, não davam nenhuma esperança, sempre nos diziam que era um tumor na maioria dos casos maligno, agressivo, raro. E que a chance de cirurgia era quase que remota, haveria apenas tratamento paliativo, que só aumentaria sua sobrevida.
Teve um dia que quando fui visitá-lo saí de lá arrasada em total desespero, porque meu pai estava bem aparentemente, normal e aquilo me incomodou porque sabia que mais cedo ou mais tarde ele ficaria muito mal, este câncer tomaria conta dele o levando a morte. Foi, então que fiquei desesperada em pensar na hipótese de perder meu pai. O que seria de nós sem ele e da minha mãe então, nem se fala, com certeza entraria em profunda depressão. Fiquei fora de mim, acho que nunca tinha chorado tanto e dito coisas tão absurdas como aquele dia. Dizia que Deus era muito injusto, que se algo acontecesse com meu pai eu não teria mais nenhuma fé. Custou para que meu marido me acalmasse.
Neste dia também lembrei algo que minha mãe tinha me dito há alguns dias atrás. Ela havia ido numa igreja evangélica, e ali do nada uma senhora membro da igreja se aproximou dela e disse que Deus viria buscar uma pessoa, e que ela tinha que ser muito forte, mas que depois tudo ficaria bem. Quando minha mãe disse isso eu fiquei chocada, porque tudo batia, meu pai estava naquela situação, então só poderia ser ele. Isto fez com que eu ficasse pior, lembrava disso, todo o momento e temia que realmente acontecesse, Deus levaria meu pai injustamente.
Pensávamos em alguma saída, alguma luz no fim do túnel, algum pontinho de esperança, mas naquele hospital víamos que não seria possível. Até então, uma amiga minha que é biomédica nos indicou um médico oncologista no hospital do câncer que poderia nos dar alguma esperança. Fomos até ele para uma reunião, levamos todos os exames que meu pai havia realizado. Quando entramos em sua sala meu coração começou a disparar, porque ali sabia que poderia sair mais aliviada, confiante ou até mesmo menos angustiada. Com os exames nas mãos o médico começou analisar, e nos disse que os exames não estavam muito bons, incompletos, não podia tirar nenhuma conclusão, a única coisa certa que os exames mostravam é que realmente tratava-se de um tumor muito grave e raro. Mas, que apesar disso haveria sim uma possibilidade de uma cirurgia curativa, porém era preciso realizar uma série de outros exames mais claros, que pudessem dar um melhor parecer. Por último disse que podíamos ter esperança, mas era preciso encaminhar meu pai ou para o Hospital do Câncer ou ao Hospital das Clínicas, porque ali haveria recursos e profissionais altamente capacitados para tratá-lo. Por último, nos deu um papel por ele assinado com a indicação do médico que deveríamos procurar no HC. Posso dizer que saí de lá um pouco mais aliviada.
Na semana seguinte meu pai teve alta do hospital onde se encontrava internado há quinze dias. Foi para casa, porém achei que estava muito chateado ainda, bem desanimado. Parecia que sabia que algo de errado estava acontecendo com ele. Até parece que lia nossos pensamentos. Mas, a alegria de vê-lo em casa durou pouco, pois neste mesmo dia começou a se queixar de dor na região do fígado. Quando chegou a noite já não agüentava mais de tanta dor, ficamos eu, minha mãe e minha irmã desorientadas, sem saber o que fazer, ligamos para o Samu, bombeiro, policia da região, mas não podiam nos ajudar porque levaríamos ele para outro município. Levá-lo nós mesmo de carro achamos por bem não, porque não tínhamos cabeça nem para dirigir, vendo meu pai ao lado gemendo de dor. Veio então à idéia de levá-lo de táxi, inclusive era de um conhecido. Apesar do trânsito pesado meu pai em pouco tempo estava no Pronto Socorro do HC, tomando morfina.
Foi possível então sua internação. Foi realizada uma série de exames para um diagnóstico mais preciso. Meu pai acabou sabendo do seu real problema, pela boca de um dos médicos de lá, que nem pensou em poupá-lo, quando disse que ele estava com câncer e era muito grave. Imagina meu pai naquela situação, ouvindo aquilo tudo e não tendo nesta hora sua família ao seu lado. Quando fomos à visita, ele acabou desabafando, nos contou que já sabia. Nunca tinha visto meu pai chorar e tão triste, me cortou o coração.
O bom de tudo isso é que os médicos disseram que era possível cirurgia, ou seja, havia uma esperança. Mas, para realizá-la era preciso cuidar primeiramente da desnutrição do meu pai para que ele pudesse resistir a tal cirurgia.
Os dias foram se passando, (no total mais de 120 dias de hospital) meu pai naquela angustia querendo que tirasse aquele negócio ruim dele o quanto antes, todos nós na verdade ficamos angustiados, porque tínhamos medo de quanto mais demorasse pior ficasse; sei lá o tumor crescer, por exemplo, e aí não ter mais jeito. Mas, por outro lado tínhamos que confiar nos médicos, afinal eles sabiam a hora certa.
Bom, quando menos esperávamos o médico nos avisou que a cirurgia dele finalmente seria realizada naquela semana. Ficamos aliviados, mas ao mesmo tempo apreensivos, porque sabíamos da gravidade e do risco que meu pai correria. Pedi muito para que Deus fizesse um milagre se preciso, mas que a cirurgia fosse realmente curativa.
A cirurgia foi realizada e correu conforme o esperado por todos nós. Os médicos nos disseram que a principio havia sido curativa, que inclusive tinha tirado uma parte de seu fígado com uma margem de segurança. Foi um alivio para todos nós, é claro que meu pai passou uns dias na UTI, mas sabíamos que em breve estaria recuperado de alta para casa. Afinal, todos os pacientes que ficaram no mesmo quarto que meu pai, fizeram cirurgia e após uma semana já estavam de alta. Então, não seria diferente com meu pai, pelo menos não queríamos que fosse.
Porém, quando achamos que tudo estava correndo bem, os médicos disseram que havia tido uma complicação pós-cirúrgica e que meu pai deveria o mais depressa possível passar por outra cirurgia. Foi terrível ouvir aquilo, achávamos que já estava resolvido, mas o pesadelo só estava começando.
Foi então, que outras complicações ocorreram e meu pai passou por quatro cirurgias em um curto espaço de tempo. Na última achei que ele não resistiria já estava muito fraco(havia perdido mais de 30 kilos), até os médicos não acreditavam mais na sua recuperação. Chegaram a dizer para mim e para minha irmã neste dia que havíamos ido visitá-lo, que encontraríamos meu pai na UTI bem debilitado, que nesta última cirurgia ele ficara muito baqueado. Falaram também que poderíamos esperar nas próximas horas uma piora em seu quadro. Porque ele não resistiria por conta da desnutrição, que tenderia a piorar. Inclusive pegou o nosso telefone, porque o pior poderia acontecer a qualquer momento e eles precisariam entrar em contato com a família. Naquele momento parecia que eu ia desmaiar, minhas pernas ficaram bambas, fiquei arrasada, não podia acreditar que toda aquela luta seria em vão. Fomos até a UTI onde ele estava, foi muito difícil olhar para ele e vê-lo daquele jeito fraco, abatido com aquele oxigênio. Pegamos na mão dele e ficamos ali eu e minha irmã meio desorientadas, mas não podíamos deixar transparecer a nossa grande tristeza e amargura, podia ser pior. Segurando ainda em sua mão fiz oração, queria que Deus escutasse cada palavra que eu dizia. O tempo que ficamos ali, a única coisa que consegui entender do que meu pai dissera foi que não estava agüentando mais, que era muito sofrimento. Perguntei para ele se ele queria desistir, como muitas vezes havia lhe perguntado e mais uma vez mesmo naquela situação toda respondeu com a cabeça que não.
Meu Deus o que eu podia fazer então para que meu pai não morresse, ele queria muito viver, pensava o tempo todo no meu filho que meu pai nem tinha tido tempo de curti-lo. Deus não poderia levá-lo, ser tão injusto. Saí de lá aos prantos, liguei para meu marido e contei tudo o que o médico havia nos dito e também do estado que havia encontrado meu pai. Então meu marido comentou que poderia levar o seu o tio, pois que é espírita e ele acredita muito em espiritismo, que com certeza poderia ajudar muito a realizar com muita urgência uma cirurgia espiritual.
Era a única esperança que ainda me restava, mas tinha medo que não desse tempo. Neste mesmo dia à noite o tio do meu marido ligou e disse que os amigos espirituais disseram que realmente ele deveria ir até meu pai e assim fez no dia seguinte para tratamento e magnetização.
Meu pai passou por uma cirurgia espiritual ali mesmo na UTI. No outro dia ele já estava indo para o quarto, não havia necessidade de mantê-lo na UTI, apesar de que isto não significava que não corria mais risco, mas tudo que a medicina poderia fazer por ele já havia feito, que dali para frente só dependia dele.
Os dias foram se passando, não havia uma melhora acentuada aos nossos olhos, mas também não havia regredido, ou seja, seu quadro era estável. Sentia meu pai muito deprimido, para baixo, não queria conversar, nem receber visita. Não levantava da cama para nada, estava muito fraco, mal conseguia erguer a cabeça. Tudo que tentava comer vomitava, sua alimentação via oral foi suspensa, se alimentava apenas por sonda.
Todas as quartas-feiras meu pai recebia a visita do meu marido com seu tio, pois o tratamento espiritual deveria continuar. Estas visitas começaram a fazer muito bem para ele, pelo menos era o que ele dizia. Inclusive se emocionava todas as vezes que via o tio do meu marido. Tinha por mim que ele sentia uma vibração, uma energia muito forte e positiva vinda dele.
Em uma destas visitas que meu pai recebera, os irmãos espirituais trouxeram minha avó, que já falecera há mais de dez anos. Meu pai não conteve tamanha emoção, mas é claro que não vimos só ele, mesmo porque não ficávamos no quarto quando ele recebia o tratamento espiritual. Fiquei meio preocupada em relação a sua emoção, será que faria bem a ele, pelo menos naquele momento onde se encontrava tão debilitado. Fiquei também a pensar o porquê minha avó viera ali, só a olhar para ele e não dizer nada. Como o tio do meu marido não a conhecia e o nome que ela deu correspondia, a minha avó, não tive dúvidas que ela havia estado ali.
Cheguei a pensar em duas hipóteses, ou ela viera para mostrar a meu pai que não precisava ter medo da morte, porque ela estava do outro lado a sua espera, ou era para lhe dar força pra lutar.
E novamente meu marido muito, como sempre, muito otimista me deixou mais calma e tranqüila , que tudo isso que está acontecendo é fundamental para a recuperação do seu pai , precisa ter mais paciência e muita fé.
Percebi que depois desta visita meu pai a todo o momento se emocionava, mas não dizia nada. Será que ele sabia de algo que iria acontecer com ele? Tentava perguntar o que ele estava sentindo ou se queria dizer algo, mas ele chorava e então eu acabava mudando de assunto. Ele pedia carinho a todo o momento, ficava nos encarando e isto me incomodava, porque como estava fragilizada com toda aquela situação, pensava o pior, o que ele queria com aquilo, se despedir da gente, não queria acreditar que isto pudesse acontecer, não agüentaria tamanha dor da sua perda. Queria muito, mas muito mesmo colocar o netinho dele em seus braços novamente. Será que Deus permitiria isto?
Os dias foram se passando e meu pai teve mais uma recaída. Já não conseguia falar, ficava muito agitado, nervoso, com falta de ar. Os médicos então descobriram que ele estava com uma bactéria consideravelmente agressiva, que tomara conta do seu pulmão, e também estava comprometendo o seu rim, e sei lá mais. Foi então, que mais uma vez ficamos desolados, os médicos chegaram a nos dizer que as chances dele sair dessa era praticamente remota e que infelizmente retornaria para UTI. Pensei então que ali era um caminho sem volta.
Quando o levaram novamente para UTI ninguém conteve as lágrimas, até as próprias enfermeiras que ali estavam. Afinal, meu pai já era muito querido ali por todos. Depois de tê-lo preparado ali no leito da UTI, quis entrar para vê-lo, e então entrou eu e minha tia irmã de meu pai que ali estava. Fiquei chocada quando me deparei com ele, estava entubado, inchado, irreconhecível. Acho que se a enfermeira não tivesse apontado para o leito dele era bem capaz de ter passado direto. Fiquei péssima, minha tia que sempre me pareceu tão forte também não se conteve. Realmente ali para mim era o fim, cheguei a se despedir do meu pai e dizer no ouvido dele que fosse em paz, que se era isso que Deus queria que o levasse de uma vez, mas não deixasse mais sofrê-lo, afinal ele não merecia.
Saí de lá e não me contive fiquei em prantos, dizia que não era meu pai que estava lá. Minha mãe estava arrasada, tanto que nem teve coragem de entrar na UTI. Mas acho que foi a pessoa que mais teve força naquele momento e me disse que ele seria meu pai sempre, independente de onde tivesse. Bom, fomos embora desnorteados, sabia que podia esperar o pior. Tinha que ser forte não sabia de onde tirar força, como seria sem meu pai.
No outro dia mais uma vez esteve na visita meu marido com seu tio. Quando meu marido chegou em casa me disse que seu tio ficou muito tempo com ele na UTI, cerca de 40minutos , até meu marido ficou pensativo .Os médicos disseram por incrível que pareça que ele tinha tido uma pequena melhora. Mais uma vez foi feito em meu pai um tratamento espiritual, onde foram depositadas em meu pai todas as energias e vibrações positivas. Apesar disso era preciso que orássemos muito por ele.
Os dias foram se passando e a cada dia que ali estávamos nos surpreendíamos cada vez mais com a melhora do meu pai. Ele já não estava mais entubado, inclusive também já se encontrava consciente. Claro, que não estava em seu juízo perfeito, tinha algumas alucinações, mas que era esperado por conta das medicações fortes e pelo seu estado.
Em menos de uma semana ele já estava de alta para o quarto. Só podia ser milagre, não tinha outra explicação. Como podia ver meu pai tão bem daquele jeito se até uns dias atrás, ele já estava com um pé se não dizer os dois já do outro lado. Meu marido pergunta então a médica do quarto, o que Ela atribui a sua melhora repentina, e Ela sem ter explicações convincentes, ergue o dedo indicador da mão direita para cima, como que a dizer: é Deus…
Meu pai conversava perfeitamente, dizia que não ia se entregar, que assim que pudesse queria estar de pé andando, só era preciso um pouco mais de força. Estava disposto a colaborar com tudo que fosse necessário e assim fez. Começou a se alimentar via oral e dar os primeiros passos. Nem acreditava naquilo que estava vendo diante de meus olhos.
Enfim, com a graça de Deus na semana do aniversário do meu pai ele teve alta para casa. Foi o melhor presente que ele pudera receber. Pôde ver novamente seu neto, que acho que era tudo que ele mais queria. Foi uma emoção muito grande.
Conseguimos organizar uma festa surpresa para seu aniversário, reunir alguns amigos e familiares que acompanharam toda aquela luta e sofrimento.
Como foi bom aquele momento, meu pai ficou muito surpreso não imaginava que faríamos esta festa para ele. Esteve a todo o momento disposto, pôde curtir bastante. Agradeço a Deus por este dia, por esta graça concedida.
Hoje posso dizer que meu pai está ótimo, conversando como antes, começou a ganhar peso. E esta semana voltou a dirigir, sinto que está mais confiante e feliz.
Agora manterá acompanhamento médico, inclusive com o oncologista. Mas, pelo resultado do exame anatomopatológico não há indícios que tenha ficado nada do tumor. Acredito que por tudo que meu pai passou e agora ele estar novamente entre nós, Deus tenha o curado.
Aqui fica uma mensagem e um agradecimento: “Deus, desculpe minha incompreensão, e espero que eu e minha família possamos tirar alguma lição de tudo que ocorreu”.
“É fácil ajudar quem a gente ama, difícil é ajudar quem a gente não conhece”.
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