
Dentre muitos vícios que podemos ter, um deles é muito penoso para a pessoa e para sua família.
É o alcoolismo.
Indicada por um parente próximo, uma mulher vem para o tratamento na terapia, com este vício.
Nestes seus quase cinqüenta anos, já perdeu tudo na vida e nada mais resta, e o que ainda a move é a vontade de beber.
Diz não conseguir parar de forma nenhuma; já tentou de tudo, internações, remédios e todo tipo de tratamento possível e imaginário.
Perdeu o casamento, o esposo, os filhos, pois ninguém mais quer manter qualquer tipo de relacionamento com Ela.
Agora por exemplo os filhos mandam ela se retirar quando vai visitá-los, pois antes tinham dó dela, mas agora sentem raiva, pois a culpam de todos os males e sofrimentos por que passaram diante da dependência do consumismo de álcool, que ela se enveredou na vida.
Por diversas vezes foi expulsa do quarto dos fundos da casa de um dos filhos onde mora, pois além de tudo, sentem vergonha dela, mesmo sendo sua mãe.
Situação complicada vive essa senhora de cabelos brancos, olhar triste e rosto enrugado, pelo tempo e pela bebida.
Não tem a mínima vontade nem prazer de viver, e somente tem vontade de morrer, para acabar com tudo isto, que a atormenta a dezenas de anos, muito embora sabemos que se morrer desta forma que se encontra, terá sérias dificuldades no plano espiritual.
Sua imagem sofrida é de uma pessoa com aparência de mais de oitenta anos, sem os dentes, rosto surrado, sem ânimo e sem vontade de viver.
Não tem emoções, não chora, pois como disse, já chorou tudo o que tinha direito na vida.
Olhando aquele quadro triste, só podemos imaginar que se não for pela vontade de Deus, nos daríamos por vencidos, pois demonstra que não há mais nada que possa ser feito. É um quadro desolador.
A inspiração vem do alto, e o facilitador começa a fazer com que aquela senhora, pudesse ir se relaxando, mas que ela não consegue, pois havia ingerido bebida alcoólica há pouco menos de seis horas, e seu corpo debilitado já não consegue mais ter o controle do seu sistema nervoso.
Por consenso com o facilitador e a equipe espiritual que dirige esse trabalho, o facilitador sugere então que ela se desligue, vá embora e volte em outra oportunidade, porem, sóbria.
Ela se retira muito triste por não poder passar pela terapia, mas promete voltar na próxima semana.
Passam-se os dias e na outra semana, a senhora está de volta, dizendo que teve vontade, mas que neste dia ainda não havia bebido nada alcoólico.
Nessa outra vez ela deita, relaxa e então vai conseguindo às duras penas, alcançar o relaxamento muito limitadamente.
Ela é envolvida com muito amor e logo começa a chorar, coisa que não fazia há muito tempo.
Forte situação de remorso se apodera da senhora e ela começa a chorar de arrependimento.
Sente fortes dores de cabeça e se vê arrependida de tudo que fez.
Como que um filme começa a passar na sua mente e vai se arrependendo de tudo que fez, a ponto de aos prantos lamentar por todos que fez sofrer.
Vai enxugando o pranto, com um rolo de papel higiênico, que em poucos instantes, praticamente chega ao seu fim.
Lamenta-se, se julga culpada e não sabe como fazer para reparar o que fez.
Suas dores de cabeça aumentam, pensando Ela que talvez sua cabeça possa explodir. Sente um remorso muito grande, que a faz entrar em desespero, pois este sentimento parece não ter fim. É se como várias pessoas da sua família estivessem ali, lhe cobrando de todas as coisas erradas que havia feito.
Interessante, diz ela: que vem a imagem do que fiz e logo em seguida, parece que alguma região do meu cérebro sente como que uma pontada, como se fosse um vulcão entrando em erupção, e começa a dor localizada naquele local.
A senhora não agüenta mais de tanta dor, ela está prestes a desacordar, e nesse instante o facilitador é orientado pela equipe espiritual, e resolvem abortar o processo, para que a senhora possa se refazer de tamanho incômodo.
Pede a ela que abra os olhos, respire fundo e pense em Jesus.
Quando começa a respirar fundo constantemente, nota que as dores vão passando e Ela começa a se sentir melhor.
É permitida sua retirada da sala, bem como é convidada a voltar na próxima semana novamente.
Pelo facilitador é instruída, que caso venha a beber bebidas alcoólicas, terá náuseas, vômitos e dores de cabeça.
A senhora se despede e é amparada até a porta para que possa ir embora.
Na outra semana a senhora está de volta, e chega apreensiva, preocupada,com ar de vergonha, e está envergonhada, pois mantém-se de cabeça sempre baixa, com dificuldades de fitar os olhos do facilitador.
Como de costume Ele pergunta como Ela está, e como foram os acontecimentos, desde a última semana que passou até o dia de hoje.
A senhora pensa, repensa, e diz que não se sente à vontade para mentir, e diz que quando saiu dali naquele dia, no outro dia foi numa festa e bebeu.
Não vou mentir, pois sabem quando uma pessoa mente, e pelo menos neste quesito estou em paz diz Ela.
Quando cheguei à festa de aniversário, vi algumas bebidas alcoólicas e resolvi tomar, muito embora tenha relutado um pouco para não fazer.
Mas confesso que o primeiro gole me derrubou, fiquei zonza e daquele momento em diante, tive ânsia, vômito e inclusive evacuação sem controle, sujando toda a minha roupa, e causando um grande vexame.
Neste momento as dores de cabeça foram se acentuando e parecia a mesma coisa que tinha vivido aqui, na experiência anterior.
Tudo o que o senhor falou, por incrível que pareça, aconteceu exatamente igual.
Estraguei a festa, e o que eles fizeram foi me levar para o Hospital a fim de ser medicada.
Pelo caminho fui ouvindo vários sermões, e decepções por todos que me acompanhavam durante o trajeto.
Lá fui atendida e medicada, permaneci internada, e fiquei no Hospital por quatro dias.
Desta vez foi muito mais duro, e quando recebi alta foi mais doloroso ainda, pois ninguém queria me buscar e alegavam que seria conveniente que a Assistente Social do Hospital, arrumasse um local para que eu pudesse ser internada, para tratamento de alcoólatras.
Desta vez realmente me senti desamparada, mas naqueles momentos que passei aqui naquela noite, me fizeram refletir sobre o s erros e problemas que causei.
Uma irmã minha foi até o Hospital e me trouxe para sua casa, dizendo que quando melhorasse um pouco, não poderia ou deveria ficar na sua casa, pois não desejava se envolver com este tipo de problema, inclusive que isto poderia contaminar a sua família.
Hoje estou aqui e agora tenho consciência que não posso mais beber, pois estou com estas marcas pretas de hematomas por todo o corpo, do furo de injeções, de me causar medo e apavoramentos.
Sei que vocês podem me ajudar, e gostaria que o senhor pedisse aos seus amigos espirituais que me ajudem, pois quero sair dessa situação.
Longo silêncio se faz presente, e aquela senhora ali paralisada, não sabe o que fazer para onde ir e como recomeçar uma vida nova.
Profundo desalento se faz sentir naquele coração sofrido, pois quando a cabeça não pensa o corpo padece.
Ela fica em profunda emoção e parece sumir diante de si mesma.
O facilitador então diz:
Minha querida irmã, sempre haverá uma outra chance, pois como disse Jesus, devemos perdoar setenta vezes sete, e não somente sete vezes o nosso irmão, mas é preciso que você não erre mais.
Que você não cometa os mesmos erros sucessivas vezes, pois dessa forma, todos irão se afastar por completo de você.
Nossa anciã passa por uma terapia de relaxamento costumeira e nestas quase três horas que se seguem, é levada ao nascimento da sua primeira filha, que hoje a detesta pelos problemas que Ela causou.
Sente-se confortada, emocionada e chora copiosamente.
Ao retornar do processo assegura estar bem, e faz um desafio a si própria, que não vai beber mais.
Promessa é dívida, e após quase seis meses de tratamento, a senhora está cada vez melhor, freqüentando a reunião do evangelho; não bebeu uma única vez e o mais interessante, voltou a ter o carinho e o respeito da sua família.
Hoje todos os seus parentes a vêem com outros olhos, e sabem que antes tarde do que nunca, e que para Deus nada é impossível.